PROFESSOR APOLO

Há professores que ensinam literatura. Outros parecem brotar diretamente dela.
Apolo pertence a essa categoria rara — a dos que chegam com uma presença tão luminosa quanto impossível de compreender por inteiro.

No campus, sua figura se torna quase um rumor suave: alto demais, gentil demais, sempre no lugar certo, sempre visto… mas nunca fora dali. Um professor cuja existência parece perfeita demais para caber na realidade rotineira de um terceiro semestre.

Para Corônis, essa presença se transforma em fascínio — não romântico, mas quase mítico. Um magnetismo que desafia explicações e que atravessa a jovem como um sopro de algo antigo, como se seu nome tivesse sido escrito muito antes de ela nascer.

Mas o encanto delicado se mistura a pequenas inquietações: ausências que ninguém nota, perfis que aparecem apenas quando ele decide existir, limites que não podem ser ultrapassados. E, pouco a pouco, o campus — vasto, quente, tomado de caatinga — parece esconder frestas por onde a realidade escapa.

O professor Apolo não é um enigma a ser resolvido.
É um encontro que desloca — uma força que nasce entre mito, desejo e memória, deixando a sensação de que algumas presenças não pertencem a este tempo, mas encontram maneiras de atravessá-lo.

E, no fim, a pergunta que permanece não é sobre quem ele é.
É sobre o que desperta naqueles que ousam olhar para ele por tempo demais.