
Há casas que guardam silêncio. Outras guardam segredos.
Esta guarda algo pior.
Quando uma família simples se muda para a casa de muro marrom na rua da Teixeira de Freitas, nada parece fora do comum — apenas algumas formigas atravessando a cozinha em fila disciplinada. Um incômodo doméstico, daqueles que se resolve com querosene e paciência.
Mas, ali, as formigas não são um detalhe: são um aviso.
O que começa como um rastro tímido torna-se um movimento crescente, quase organizado, quase inteligente. A casa respira diferente, as paredes parecem ocultar alguma coisa, e a rotina da família passa a conviver com um fenômeno silencioso, persistente, impossível de ignorar.
E então, no dia de Natal — quando tudo deveria ser festa, cheiro de comida e risos de criança — a casa enfim revela o que vinha escondendo. Não com gritos, mas com a naturalidade terrível de quem sempre soube o que estava por vir.
As Formigas é um conto sobre a invasão do estranho dentro do ordinário; sobre como o horror, às vezes, não chega pela porta da frente — ele entra pelas frestas.
E quando chega, vem em silêncio. Em fila. E em número impossível de contar.