O PÊNALTI


Num estádio lotado, sob chuva e vaia, um jogador experiente se prepara para cobrar o lance que pode decidir o campeonato. Até aí, nada de extraordinário — o drama do futebol sempre gostou de flertar com abismos.

Mas, nesta história, a tensão do esporte é apenas a porta de entrada para algo maior, íntimo e profundamente desconcertante.

No instante em que Sandro se coloca diante da bola, o mundo ao redor parece vacilar. Suas memórias se embaralham, sua identidade falha, e a lógica do jogo — tão familiar, tão ensaiada — começa a desfazer-se como um gramado encharcado.

O que era apenas um pênalti transforma-se em um enigma sobre quem ele é, de onde veio e por que, de repente, sua vida inteira parece deslizar para fora do eixo.

Enquanto a torcida sustém a respiração, Sandro é lançado a uma espécie de interstício entre passado e presente, sonho e realidade, luto e culpa. A tensão do chute torna-se insignificante diante daquilo que o assombra: memórias que não combinam entre si, vidas que não deveriam existir na mesma pessoa, vazios que nenhuma bola no ângulo poderia preencher.

Em O Pênalti, o terror não está no goleiro, no estádio ou no placar.

Está no instante em que o corpo reconhece uma vida que a mente não consegue explicar.

Este é um conto sobre desorientação, identidade e perda — e sobre o medo mais íntimo de todos: o de descobrir que a vida que acreditamos viver pode ser apenas uma das versões possíveis de nós mesmos.

E, quando a bola finalmente viaja pelo ar, talvez já seja tarde demais para lembrar quem era que deveria tê-la chutado.