O Pedaço de Dona Alaíde - O LIVRO

APRESENTAÇÃO

Há livros que se contentam em entreter. Outros, como O Pedaço de Dona Alaíde, preferem assombrar.

Aqui, o sertão não é cenário: é personagem vivo, inquieto, cheio de silêncio, de histórias mal resolvidas e de presenças que se insinuam pelas frestas da memória.

A caatinga — essa mata branca, resiliente e injustamente incompreendida — atravessa cada conto com a força de uma entidade antiga. Tudo ali parece respirar, observar, esperar.Entre povoados esquecidos, estradas de terra, escolas abandonadas, igrejas silenciosas e casas que rangem à noite, os contos caminham entre o real e o impossível. Nada é explicado, porque no sertão as respostas não se dão: aparecem, quando querem — na água parada de um poço, no vento que passa entre as pedras, no reflexo torto de um espelho.Este é um livro que abraça a angústia como matéria-prima. Não oferece conforto, tampouco respostas prontas.

Aqui, o medo é sutil, quase imperceptível, e se instala devagar, como mofo crescendo em quadros antigos.Cada conto é uma fresta.

Cada fresta revela apenas o suficiente para que você siga adiante, ainda que não queira.

E, quando terminar, talvez não encontre explicação — apenas a sensação de que algo ficou à espreita, observando, aguardando, insistindo para ser lembrado.