
Alguns povoados parecem destinados a desaparecer antes mesmo de sumirem do mapa — primeiro vão perdendo gente, depois animais, depois o próprio silêncio parece mudar de tom. Lajedo do Alecrim é um desses lugares. E tudo começa com a ausência de um velho que nunca faltava à feira.
O sumiço de seu Alípio, homem de hábitos rígidos e palavras contadas, desencadeia uma sequência de acontecimentos que ninguém consegue explicar — nem mesmo quem estava lá, nem mesmo quem tentou negar até o fim. Um rapaz volta mutilado da visita ao velho, lembrando quase nada. Um corpo é encontrado de forma que não cabe nos padrões do mundo real. Crianças desaparecem como se arrancadas pelo vento. Famílias fogem sem olhar para trás.
E, no centro de tudo, a casa de seu Alípio permanece ali, intacta e impossível, resistindo ao sol esturricante como um osso antigo deixado no meio da estrada. Quem tenta se aproximar sente o corpo fraquejar, como se algo empurrasse de volta. Uma força que não tem nome — e talvez nem queira ter.
O mistério cresce: é bicho? É gente? É delírio coletivo? É memória maldormida de histórias velhas do sertão? Ou algo que sempre viveu escondido e encontrou, naquela solidão, o lugar perfeito para se mostrar?
Com o passar dos dias, o povoado inteiro se esvazia. O que fica são urubus, vento quente e um silêncio que parece observar. Casas fechadas, estradas vazias, uma sensação de que algo ainda anda por ali quando a lua sobe.
Em Casa Morta, o terror não é apenas o ataque ou o desaparecimento — é a impressão de que o povoado inteiro foi engolido por algo que não tem forma, mas tem fome. E que, mesmo agora, continua esperando por quem ousar passar pela estrada de Lajedo.