O HOMEM DA ESTAÇÃO

Algumas presenças parecem atravessar os trilhos sem pedir licença ao tempo. Em Itiúba, onde a serra molda o horizonte e o apito do trem sempre dividiu a vida entre chegadas e partidas, um homem elegante começa a surgir — sempre do mesmo vagão, sempre com o mesmo bilhete, sempre perguntando onde está.

O narrador, funcionário dos Correios, se vê diante de uma figura que não deveria estar ali e que, curiosamente, ninguém mais parece notar. O estranho reaparece semana após semana, como se fizesse uma viagem que jamais termina ou que nunca começa. E cada reencontro lança novas perguntas: por que apenas um homem na estação o reconhece? Por que o bilhete aponta um destino impossível? E de que forma o desconhecido parece saber mais do que deveria?

Entre horários fixos, trens que obedecem a lógicas antigas e uma estação que já viu mais vidas do que seria capaz de contar, a presença de Tarquínio Venceslau se torna um enigma que se repete com a precisão de um relógio — mas cuja origem se perde em algum ponto entre trilhos, calendários e coincidências que não se explicam.

Porque, às vezes, o que chega na estação não é apenas um passageiro.
É um vestígio — de tempo, de memória, de algo que insiste em retornar mesmo quando não deveria mais existir.