
Há desaparecimentos que fazem barulho — e há aqueles que somem como vapor, sem deixar sombra, explicação ou pegada. A história de Olívio pertence a essa segunda categoria: um sumiço tão silencioso que parece ter acontecido ao mesmo tempo dentro e fora da realidade.
Tudo começa com um homem comum: rotina de relógio, caminhos repetidos, horários que não falham. Mas quando o cotidiano é perfeito demais, basta um detalhe fora do lugar — uma van preta sem placa, um depósito inesperado, uma conversa ouvida baixa demais — para revelar o quanto a vida pode ser frágil.
Ao descobrir o que não devia nos arquivos do INSS, Olívio se torna peça de um jogo que não sabe jogar. E, ao tentar fazer a coisa certa, acaba envolvido numa proposta improvável: evaporar-se, trocar de nome, de rosto, de destino. Sumir do mapa como quem apaga um erro.
A partir daí, a linha entre verdade e boato se desfaz. Alguns dizem que ele vive num recanto escondido do Ceará, servindo café fresco a hóspedes que nunca conseguem voltar ao mesmo lugar. Outros garantem que ele nunca saiu do Rio, que jamais existiu essa tal pousada, que a estrada que leva até ela se move como miragem.
E, no fim, fica a impressão de que certas vidas não terminam — apenas deixam de ser encontradas.