
Recebemos este texto da professora Mariana, docente da Educação Infantil, e publicamos aqui na íntegra, por entendermos que sua sensibilidade traduz com profundidade o espírito que marca o final de mais um ano letivo.
Encerramos mais um ciclo. E, ao olhar para a sala vazia — aquela mesma sala que, meses atrás, ecoava risos, descobertas, choros tímidos e perguntas intermináveis — sinto algo que vai além do simples fechamento de um calendário escolar. Sinto o peso suave e, ao mesmo tempo, vibrante daquilo que se transforma silenciosamente em cada criança, sem que muitas vezes percebamos.
O final do ano letivo sempre me emociona, porque é nesse momento que compreendo, de maneira mais nítida, que ensinar é acompanhar metamorfoses. É assistir ao crescimento dos pequenos gestos: a criança que aprendeu a dividir, o que já nomeia as cores com segurança, aquela que finalmente teve coragem de se apresentar no círculo da manhã. Nada disso vem estampado em grandes títulos, mas são conquistas gigantescas que marcam para sempre a vida escolar.
Também é agora que me pego revendo decisões, práticas, rotinas. O que deu certo? Onde falhamos? O que mudaria se o tempo me devolvesse algumas oportunidades pedagógicas? A educação, afinal, exige de nós um permanente exercício de humildade — não como renúncia, mas como abertura. Ensinar é reconhecer que sempre podemos fazer melhor, principalmente quando as crianças nos mostram, com sua espontaneidade, que a escola precisa ser viva, acolhedora e real.
Não posso esconder que, apesar de tantas belezas, há pontos que inquietam. A pressão por resultados rápidos, a burocracia que limita o tempo de planejar, a falta de diálogo entre famílias e escola, os desafios emocionais que chegam cada vez mais cedo… Tudo isso faz parte do cotidiano e cobra de nós uma atenção sensível e, muitas vezes, cansativa.
Mas também acredito que a crítica só vale quando abre portas — quando aponta caminhos. E, olhando para o próximo ano, vejo possibilidades. Talvez não grandes revoluções, mas pequenas mudanças que sustentam a educação que desejamos:
Se fizermos isso, ainda que pouco a pouco, plantaremos um terreno fértil para aprendizagens verdadeiras.
Desejo encontrar crianças curiosas e acolhidas, famílias participativas, escolas que valorizem o brincar e a autonomia. Desejo mais encontros significativos, mais encantamento, mais tempo para respirar e observar — porque a Educação Infantil só existe plenamente quando damos espaço para o olhar sensível.
E desejo, acima de tudo, que nós, professores, não percamos de vista o porquê de estarmos aqui: a educação é um ato de esperança diária. E, mesmo nos dias difíceis, ela nos lembra que vale a pena acreditar no futuro — afinal, ele chega todos os dias de mãos pequenas, correndo pelos corredores.
Agradecemos imensamente à professora Mariana por compartilhar palavras tão humanas, críticas e inspiradoras. Que este texto toque outros educadores e os convide à reflexão sobre o que passou e ao planejamento consciente do que virá.
Finalizamos reforçando que a educação nunca se encerra com o calendário — ela continua pulsando em cada criança, em cada professor e em cada olhar que acredita que aprender é um ato de coragem e de amor.